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A mostrar mensagens de 2009

Feliz Natal

E uma vez mais chegamos àquela altura do ano em que muitas palavras e gestos se repetem. À parte das coisas que já aborrecem por serem repetidas, há sempre algo novo e por vezes há diferenças que tornam quase tudo novo. Talvez seja a essas diferenças que devemos dar a nossa atenção para assim termos algum alento, termos as energias renovadas para mais um ciclo dentro daqueles que constituem as nossas vidas. Para a maioria das pessoas existe uma chama de euforia que desperta nesta altura do ano, euforia esta (que pode ser contagiosa...cuidado!) com a qual devemos ter certos cuidados porque, tal como as coisas que fazemos porque o nosso coração assim manda, corremos o risco de ter de repensar o passado quando este presente estiver ultrapassado, e é certo e sabido que, repensar o passado nem sempre resolve muita coisa, antes pelo contrário. Resta-me dizer a todos os que aqui passarem que, aquilo que desejo para mim e para vós, são uns dias de sossego, se possível na companhia da família

um NADA

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Hoje, e à semelhança dos últimos dias, sinto-me um NADA. Um nada para mim e um nada para os outros. Sinto o meu corpo a desvanecer no passar do tempo que é marcado pelas palpitações do coração que parece querer sentir mil e uma coisas ao mesmo tempo. Por ser demasiado, ele acaba por ficar congestionado deixando-me numa sofreguidão que surge como se o mundo fosse acabar daqui a uma hora e houvesse uma infinidade de coisas que ainda queria experimentar /fazer nesta vida. Sei que de nada serve estar constantemente a olhar para o lado menos bom de tudo, pois isso é provável que estrague o pouco [que pode ser muito] do bom que já se alcançou, mas os nossos pensamentos por vezes ganham autonomia e levam-nos até onde não queremos e é agonizante não ter controle sobre o próprio pensamento e consequentes acções. Acções essas que deixam marcas como se fossem um carimbo sobre um selo. O selo continua a estar lá, conseguimos ler o seu texto e ver a sua imagem, mas está marcado para sempre e por

Um sabor diferente

Hoje, as linhas de água que chegam aos meu lábios têm um sabor diferente, não sabem a salgado nem sabem a doce, têm um sabor que vem de outros sentimentos. Sentimentos que talvez desconhecesse, ou pelo menos pensava que desconhecia porque nunca fizeram parte de mim, mas são sentimentos que me deixam fraco e vulnerável, sentimentos que me ocupam os pensamentos e fazem deles seus escravos, criando raízes em cada espaço vazio num emaranhado que só o tempo poderá ajudar e desfazer. Arrepios e arritmias surgem através do som que faz expelir aquilo que sinto abrindo estreitas aberturas do meu coração que ainda não foram entupidas pelas palavras que nunca ganham vida, que se mantêm a bolhar como se estivessem envolvidas num manto de lava no interior de um vulcão que ferve e se corroí em cada centímetro. As palavras deixa-me a ferver, no entanto é como se estivesse submerso em águas geladas e pesadas das quais, por mais que tente, não consigo emergir. Como consequência ou não, a noite transfo

À noite na floresta

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Esticaste o braço e varreste as estrelas do céu deixando-me perdido de olhos abertos a ver o nada que a escuridão da noite tinha para oferecer. Tentava orientar-me e sabia que estavas ali perto, eu ouvia-te, mas não te encontrava! Estavas ali mas ao mesmo tempo corrias por entre as árvores, montes e riachos, eu quase conseguia ouvir todos os teus movimentos, os teus braços a acordar os ramos adormecidos das árvores, o vento por ti provocado a espantar as folhas caídas e outrora sossegadas e os teus pés a fazerem furos na água numa mistura de sons ocos e estridentes . Fiquei ali, somente a ouvir os sons, a vaguear pelos pensamentos e à espera que tu e os teus braços regressassem para me embalar e aconchegar na noite, sentir a segurança da tua presença e o calor da tua companhia para então poder fechar os olhos e correr contigo pela floresta fora até nascer um novo dia.

Looking Back

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Olhando para trás... Em tempos, e devido a uma decisão incoerente, mas inocente, escapaste das minhas mãos e naquele momento pareceu que o tempo parou, pensei que seria um fim e estremeci de pânico, corri sem que o cansaço existisse, percorri caminhos que não tiveram distância, avançava sem ver as luzes e sem sentir a noite, sentir o que quer que fosse, pois o medo preenchia todos os milimetros dop meu pensamento. Queria apenas poder voltar atrás, queria apenas desaparecer. Depois daquele momento, a noite parecia interminável, tudo o que eu procurava era o auxílio, pois o medo era terrificante e até saber que a tua fragilidade fora mais forte do que tudo, foram eternidades de ansiedade. São memórias que fazem a minha pele crepitar sempre que nelas mergulho. Entretanto, como o tempo parece voar, muito já se passou desde então e de quando em quando eis que essas memórias me invadem, mas hoje é diferente, todos os dias são diferentes, embora no seu conjunto pareçam uma repetição. Sabemos

Cinzas

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Embebido em movimentos e olhares de indiferença, cada gesto teu podia ter o sabor da água, mas por vezes sabe a vinagre e é como combustível que derrama sobre o fogo e alteia as chamas de algo que arde e volta a arder, sem nunca se apagar totalmente. Dentro das cinzas, aparentemente geladas, há sempre um calor pronto a emergir, fazendo da cor da lava, a cor da vida e em simultâneo a cor da morte, do perigo. Sim, porque é certo e sabido que vivemos no meio das antíteses e nelas temos de encontrar o meio-termo entre o acreditar e o não acreditar, entre o lutar e o desistir, entre o andar e parar. Mas parar para quê?! Para pensar? Para descansar? Para fechar os olhos e cair num sono profundo onde o corpo se estende na segurança do escuro, do vazio, do silêncio, da solidão que mata e dá vida?! As horas passam e reabrimos os olhos e cá estamos outra vez, ligamos a música e subimos no carrossel, andamos às voltas em chávenas de café ou em cavalos que não sabem se riem ou se estão ferozes.

Dominó

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Debato-me contra mim próprio em momentos que não sei definir e que são resultantes de acções que não consigo recordar, mas que consigo imaginar com base não sei em quê. Tudo na tentativa de alcançar metas que nem ponto de partida tiveram, e isso, porque talvez afinal não sejam metas e não passem apenas de pequenas luzes intermitentes que nem sequer têm energia suficiente para marcarem presença no meio de qualquer escuridão, seja ela a da lua ou a de outra natureza. Esses são dias do avesso, dias em que se acorda e passa-se o dia a dormir, a ficar cansado de estar sentado, cansado de desperdiçar tempo porque tudo o que se faz é rigorosamente nada. Nada que no dia de amanhã se possa ver, ouvir, enfim, sentir ou recordar... Mas, por mais iguais que os dias pareçam, eles têm sempre pequenas diferenças que podem ser tão determinantes como o acender de um fósforo...e o que chamamos a isso? O início de algo ou o fim de algo? Como é óbvio, nem sempre está em nós dar vida a essas diferenças no

José Luis Peixoto - Cal

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Neste post, deixo algumas breves linhas relacionadas com o que achei acerca dos vários textos que podemos encontrar no livro Cal de José Luís Peixoto, dos quais ficam também aqui pequenos excertos. Quem gosta da escrita deste autor português, irá certamente reencontrar palavras e frases ao estilo daquelas que podem ser a razão de se gostar do estilo de escrita de José Luís Peixoto, um estilo bastante característico e que desperta no leitor determinados sentimentos que nos fazem pensar e reviver memórias ou detalhes que nso esquecemos ou que estão adormecidos em nós. Para quem não conhece, deixo a minha recomendação, com a condição de aconselhar apenas às pessoas que queiram ler algo que lhes faça refletir ou que estejam à procura de algo calmo, estejam à procura de encontrar pessoas simples e com elas reviver determinados momentos das suas vidas, momentos distintos, acontecimentos distintos, personagens semelhantes, mas distintas. A idade das mãos Contemplamos alguns momentos da vida d

Mergulho no ar

Vou a correr com a minha velocidade máxima e através do impulso que consigo dar ao meu corpo, lanço-me no ar e mergulho. Abro os meus braços e rasgo o vento que tenta deter-me sem sucesso. Sinto o tempo a passar por mim como uma flecha que sai de um arco, abro as mãos para o agarrar, mas ele é tão invisível quanto o vento e intocável como a linha do horizonte. É um sentir sem ter tempo para sentir, é sentir as coisas a alta velocidade, é estar a chegar a algum lado depressa mesmo sem saber ao certo o que lá está, lá em cima ou lá em baixo, qualquer que seja a direcção do meu voo. Contínuo na minha viagem vertiginosa... Ultimamente ela tem se tornado mais intensa e têm sido tantas as pequenas coisas que, nem mesmo sendo pequenas, deixam-me a pensar, deixam-me a pensar no antes e depois, e deixam-me a pensar porque esses antes e depois não são antes e depois como a diferença que um corte de cabelo pode fazer. São antes e depois como uma laranja com casca e essa mesma laranja já sem casc

Memórias no papel

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Algures no passado as tuas palavras eram a expressão de uma alegria que sentias. Era uma alegria que te fazia acordar para um novo dia que não era só um novo dia, era uma nova realidade, era o alcançar de uma meta tão pacientemente perseguida e almejada. Mas lá no fundo dizias nas tuas palavras que era como se ainda não tivesses acordado e que aquele sol na janela não era um sol verdadeiro, era uma miragem fora do deserto, fora do mundo. Balançavas entre a certeza e a dúvida sempre na certeza de que aquela iria ser a forma do teu coração para um sempre....um sempre que podia ou não ter um prazo de validade. Hoje olho para um papel quadriculado e vejo lá símbolos azuis que formam frases que outrora eram sentimentos, que outrora eram o brilho dos teus olhos e a razão do teu sorriso. Hoje não sei a forma do teu sorriso nem o que dá vida ao teu olhar. Mas uma coisa eu sei, o rasgar de um papel não é o rasgar das memórias...essas não se escrevem no papel, mas sim no coração.

Contagens descrescentes

Venho aqui marcar presença neste mês de Agosto, mês de férias para muitos, para outros é o mês e regresso ao trabalho ou então o mês que antecede o tão esperado período de férias. Por esse, e outros motivos de ordem maior, também pode ser considerado o mês em que entra em fase de aceleração, diversas contagens decrescentes, como se estivesse descalço numa rampa molhada e cheia de limos ou como se tudo estivesse associado à sua própria ampulheta. Ir aqui, ir acolá, fazer isso, fazer aquilo, pensar nas hipóteses, considerar as mudanças, preparar para o desconhecido, viver momentos de ansiedade, momentos de alegria momentânea resultante de fragmentos de mini -sonhos que piscam de quando em quando na nossa mente como se fossem o flash de uma máquina fotográfica. Ao mesmo tempo que o a areia vai derramando e as datas limites vão sendo alcançadas, tenta-se viver o dia-a-dia da forma mais normal possível, como o equilíbrio necessário e indispensável. Infelizmente também para este texto ha

Philippe Jaroussky

Naqueles momentos senti-me minúsculo como uma formiga, insignificante como um fio de cabelo e transparente como um vidro, mas mesmo assim senti-me vivo! Senti-me vivo porque o que me fazia sentir pequeno e invisível não era aquilo que me fazia sentir bem, não era aquilo que faz parte do grupos de coisas que para mim constituem motivos, razões, âncoras para permanecer nos portos da vida. Por vezes, basta estar perante algo que me leva para um outro lugar, tão distante e tão próximo das portas do mundo cujo chão piso todos os dias, um lugar físico e ao mesmo tempo um lugar que não existe, mas que se sente e se vive. Vive-se porque naquele momento somos capazes de acreditar, valorizar e transformar o talento dos outros em algo que nos dá prazer, algo que nos enche a alma e nos fazem sentir gigantes. Gigantes porque precisamos de todo esse espaço para armazenar aqueles sentimentos que nos enchem e se expandem durante aqueles momentos. Mesmo que sejam apenas por uns minutos ou um par de h

Super-heróis...liberdade

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E se fossemos todos super heróis?! Personagens com características fora do normal?! Qual seria o poder escolhido por cada um de nós? Para que fins usaríamos os nossos poderes ou as nossas características especiais? Para fazer o que os super heróis da TV fazem? Ou será que teríamos outros objectivos? Por estarmos fartos da monotonia da realidade do nosso mundo, e devido à falta de incentivos pessoais, globais e de todos os outro tipos possíveis, damos asas à imaginação e damos igualmente uso ao que, os outros como nós, criam. Refugiamo -nos momentaneamente em histórias, que até podem ter como base algo nosso, mas que nos encantam por terem elementos que estão fora do nosso alcance e do nosso domínio, e vivemos fantasias que nos fazem esquecer o real. Nesses momentos a liberdade do imaginário enche-nos a alma e acreditamos na felicidade, no amor, no extraordinário , no ideal, em tudo aquilo que muitas vezes se torna invisível na nossa existência que é frequentemente questionada e desv

Emoções

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A respeito de algo que se calhar à partida nada teria a ver com demonstrar emoções, mas sim com reacções baseadas no raciocínio lógico, com a razão, chegou-se à conclusão [ou para quem quiser, uma espécie de conclusão, pois para muitos nada é absoluto mas sim relativo] que nós não somos senão um contentor de emoções, que vivemos à base disso. Somos seres emocionais e tudo o que fazemos baseia-se em emoções. Todos os nossos pensamentos são derivados de emoções que por sua vez vão gerar outras emoções. Também pode-se dizer que as nossas acções e o nosso estado de espírito são o resultado do processamento das nossas emoções. Claro que nem todos de nós temos a mesma sensibilidade, da mesma forma que nem todos nós demonstramos as nossas emoções com transparência e isso, tal como tudo na vida, tem os seus aspectos positivos e negativos. Para uns, mostrar as suas emoções através da demonstração de sentimentos é um sinal de fraqueza, de fragilidade pessoal, para outros é uma mais-valia para o

Do cheio ao vazio

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Quero ser Mais e sou Menos Quero ser o Sol e sou a Lua Quero ser uma Estrada e sou um Beco sem saída Quero ser um Oceano e sou uma Gota num Lago que muitas vezes parece querer secar Quero ser uma Montanha e sou uma Pedra adormecida dentro de um buraco escuro Quero ser Eu e sou a Sombra... A Sombra que nada sabe dizer, errante e dependente da direcção e da força da luz que emana de uma fonte aleatória de sentimentos e vontades. Talvez na realidade as coisas não sejam bem assim, mas até lá o "?" marcará presença porque nunca estaremos no olhar dos olhos que nos observam, nunca estaremos a ser processados por um cérebro que não seja o nosso, e quem nos vê através do espelho não é quem nos vê e nos consegue tocar, é simplesmente uma sombra com cores e formas esbatidas num reflexo de luz, um fantasma que nasce de nós. Divagar nas dúvidas é talvez aquilo que mais nos entretem , pelo menos no meu caso posso dizer que isso acontece muitas vezes, mas tenho de ver isso pelo lado positi

Naquela Janela - III

"O medo de não saber medir o poder das palavras ou o poder do silêncio quando aplicados no momento errado, o medo de não saber reagir...o medo de uma janela, daquela janela e daquele momento". Só lhe passava pela cabeça que, naquele momento, ela pudesse desistir de si, desistir da sua vida e de tudo, porque vê-la sentada naquela janela era o mesmo que vê -la caminhar em direcção ao desconhecido, na direcção do abismo. Era isso que indicavam os olhos dela. A sua cara pintada com um rasto de lágrimas que não eram mais do que as suas pegadas ao longo daquela caminhada. Ele olhava para ela e tentava ir ao encontro dela através do olhar, mas as lágrimas secavam tão depressa com o vento que soprava pela janela e levava consigo o rasto das pegadas. Mas mesmo assim ele não desistia de ir ao encontro dela, ao encontro do epicentro de toda a angústia que ela poderia sentir naquele momento. Ele sabia que aquele era o momento em que se apercebera que os seus actos não eram simples gesto

O dia de hoje

Por mais que quisesse ignorar este dia, eu sei que felizmente [e infelizmente...mas essa parte refere-se só a mim] não conseguiria porque há pessoas que não deixariam que isso acontecesse. Apesar de ser um dia igual a muitos outros em diversos aspectos, há algo nele que marca a diferença e de tempos a tempos ele estabelece simultaneamente uma meta e um ponto de partida. Mesmo que a transacção se desvaneça numa nuance de cores, de horas, de momentos, passando quase irreconhecível. Podia ser simplesmente o dia entre o ontem e o amanhã, mas o dia de hoje é um dia de reflexão [dentro do possível], como se os pensamentos dos outros dias ganhassem sons e os esses tivessem liberdade para seguir contornos diferentes desaguando em pequenos corredores. Tudo o que é inverso ao positivo nesse dia é desafiado nos pratos da balança pelo peso da felicidade [ou lá o que isso pode ser para cada um de nós] que resulta de pequenos gestos que no dia de hoje fazem diferença e dizendo isso, posso concluir

Naquela Janela - II

Um objectivo já havia sido predefinido, no entanto os caminhos que os levaram a estar naquele momento entre aquelas quatro paredes, como se conhecessem há imenso tempo, mas que na realidade ainda eram relativamente estranhos um ao outro, eram caminhos improvisados, frutos do acaso, frutos do desentendimento e da busca de sentimentos perdidos ou sentimentos nunca encontrados. O que para ela parecia ser a correcção de um erro, para ele acabava por ser a criação de outro erro, e no meio de toda a ambiguidade que dominava aquele espaço e as decisões que tinham de ser tomadas, uma espécie de afastamento falou mais alto e de um momento para o outro era como se nada fizesse sentido para ambos. Ele sentou-se no sofá, deixando os cobertores e lençóis abandonados em cima da cama e ficou em silêncio. Ela também se levantou, caminhou até à janela e sentou-se no parapeito contemplando a noite, as luzes dos edifícios ao longe e dos carros que passavam esporadicamente na rua, alguns andares mais aba

Sim e Não

Por vezes um "Não" é muito mais do que 3 letras, é muito mais do que um universo, é um infinito de acontecimentos que morreram antes de terem oportunidade de ganhar forma, morreram antes de viver. São mais que 3 letras que dão lugar ao silêncio e à vergonha. Mais que 3 letras que muitas vezes conseguem ser aquilo que verdadeiramente são...o negativo, o impossível, o invisível, o não existir, não querer nada e o não viver nem deixar viver. É preciso aprender a usar esses conjuntos de 3 letras: SIM e NÃO ....tão simples e tão complexas, tão insignificantes e tão determinantes...o tudo e o nada!

Naquela Janela - I

E assim foi, algures num mês de Maio, certamente já distante e sobreposto por muitos outros meses e alguns anos, duas personagens que podiam ser Mathias e Alice ("Solidão dos números primos"), mas que não eram, talvez para esse par estejam reservadas outras palavras, outros destinos e outros momentos, deram por si num quarto. Um quarto que não era o dele nem era o quarto dela. Era um quarto de todos e ao mesmo tempo um quarto de ninguém. Por mais coisas que tivessem naquele quarto, objectos, roupas, seriam somente os momentos vividos aquilo que lhes pertencia verdadeiramente e ao qual podiam chamar "seu", de ambos e não de um só. Naquela noite, as paredes daquele quarto transformaram-se em cenários onde tudo podia acontecer e onde certas situações poderiam ser apenas um teste ou acontecimentos reais. Eles não o sabiam e estavam apenas a desempenhar os seus papéis. Afinal de contas todos nós somos personagens a desempenhar o nosso papel nos cenários da nossa vida e

Quando somos um só

Nos momentos em que eu e tu somos um só, nos momentos em que todos somos um só, as coisas não têm preço, mas têm um valor. Um valor que não se quantifica, mas que se vive. Um valor através do qual nos sentimos confortáveis, seguros, sem preocupações, sem pensamentos negativos...a alma enche-se subitamente de um bem-estar que surge quase do nada e nos deixa satisfeitos. Um valor equivalente ao movimento de um conjunto de roldanas que se movem em conjunto e em conjunto alcançam o progresso devido à sua sincronia, à sua união. É o que acontece quando conseguimos estar bem connosco, estar bem com os outros, estar bem, simplesmente bem e com vontade de seguir em frente, alcançar objectivos, perseguir sonhos, traçar metas e correr na sua direcção. Os mal-entendidos nascem das mais pequenas migalhas de nada e muitas vezes incham como um grão de milho afogado em óleo fervente que dá origem às mais variadas formas após explodirem. Crescem e alastram-se, ocupam todos os cantos, sufocam o ar como

Pensamentos soltos I

Vim aqui matar saudades deste espaço que tenho deixado abandonado por alguns dias....faminto de palavras, deserto de sons e vazio de sentimentos. Geralmente o que tento deixar aqui tem uma razão de ser, razão essa muitas vezes (senão sempre) ligada aos sentimentos e pensamentos (a que mais podia ser?) e o facto deste espaço andar vazio não quer dizer que não se passe nada, que não haja vida, pois essa existe. Simplesmente tem faltado aquele tempo de reflexão, aquele tempo de direccionar os pensamentos para as palavras e fazer delas algo que ganhe existência, mesmo que essa seja virtual. Algo que aprendi há uns tempos atrás, foi que, aquilo que à partida parece ser algo apenas virtual, pode não o ser, porque quando as palavras que fazem parte de um mundo digital nos dizem tanto e nos tocam verdadeiramente, elas ganham vida própria no mundo real, ganham uma forma, ganham um contexto, ganham uma existência que nos marca e que nos liga. O que seriamos nós sem essas ligações?! (sei que já d

Estaria a mentir

Os últimos tempos têm sido algo agitados. Podias pegar neles e transformar cada momento numa pedra colorida e guardar num frasco de vidro transparente. Cada cor um sentimento, cada cor uma situação, cada cor uma recordação. Esse frasco seria a minha memória, o portefólio da minha existência. Eu olharia para esse frasco e o que é que ele me diria?! Uma infinidade de coisas... Tenho a vantagem de ter este espaço ao qual posso recorrer e deixar algumas dessas pedras espalhadas, alguns fragmentos. Os que não ficam aqui, são como fogo de artificio que é lançado ao encontro das nuvens ou da lua, ao encontro de um céu que me olha e no qual posso confiar. Um fogo de artificio onde as minhas palavras assumem diversas formas, diferentes direcções, cores distintas e sons diversos. É um fogo de artificio que pode causar impacto, quer pela positiva, quer pela negativa. Mas o importante é saber que estará lá alguém atento a olhar para o céu a assistir àquilo que sinto, àquilo que digo, é esse o pod

Um Universo de Possibilidades Infinitas

"E se essa teia invisível que nos une quebrasse, acabasse... E depois? O que seria de biliões de almas solitárias e desconectadas? Aqui reside o maior desafio das nossas vidas. Descobrir, conectar...Resistir. Enquanto nossos corações forem puros, e nossos pensamentos sãos, seremos realmente um só, capazes de reparar o nosso frágil mundo, e criarmos um universo de possibilidades infinitas ." (Heroes, Volume 4) De uma forma ou de outra acabamos por estar todos ligados, envolvidos nessa grande teia de infinitas ligações, umas reais, outras imaginárias. No entanto, sei que esse pensamento, essa conclusão, tem os seus dias invisíveis e nesses dias não serve de muito, pois na realidade sabemos que a teia não se alastra ou resiste tanto quanto muitos de nós gostariamos. Quantas ligações ficam bloqueadas?! Quantas se desligam com o passar do tempo?! Quantas deixamos passar ao lado? Quantas são mal interpretadas? É um labirinto no qual os becos sem saída estão presentes e onde é preci

Transparência

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Aos olhos de quem não tem tempo nem paciência para grandes caminhadas sei que não sou feito de vidro transparente. No entanto acredito que o percurso da minha opacidade à minha transparência não seja tão longo quanto a muralha da china porque antes que essa fosse percorrida, a essência já teria sido apurada, e nessa altura sim, já era possível existir alguma transparência, mas talvez o estilo de vida dos nossos dias só permita o consumo rápido de tudo e de todos. Tudo tem que acontecer em momentos fugazes onde os juízos pré-definidos e estereotipados são o prato principal. Acaba-se por ganhar um rótulo e com esse rótulo, uma série de atributos listados e enumerados como se fizessem parte da lista das compras semanais. O meu silêncio deixa de ser uma simples ausência de palavras e transforma-se em traços que supostamente me esboçariam numa folha da papel reciclado, amarrotado, pronto a colocar no cesto do lixo porque algo que é vazio, sem valor e altamente prejudicial ao que está em red

Centímetro

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Era o inicio de mais um dia e eu, juntamente com as ausências repartidas pelas outras três cadeiras, estávamos a fazer companhia àquelas duas mesas juntas. Juntas como as restantes mesas do café que mais parece um corredor e por isso as mesas têm de estar acasaladas, tornando-se muitas vezes apenas uma mesa em vez de duas porque estão de mãos dadas por baixo dos seus tampos... Será que se estivessem desviadas 1 centímetro seria diferente?! Acredito que sim! E sei que outras pessoas também pensam o mesmo, ou pelo menos a maior parte delas porque há sempre excepções à regra, e hoje, tu foste uma dessas excepções. E foste-o porque talvez 1 centímetro não signifique nada para ti ou então porque não havia necessidade de separar as mesas porque essa separação pode ser apenas psicológica, onde um centímetro pode corresponder a um metro! E foi assim, sentaste-te na cadeira que estaria à minha frente se não estivesse na mesa do lado e permanecemos ali em silêncio, a olhar em direcções opostas

Na tua fiel solidão

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Olho para ti e fico a pensar que... Está na altura de deixar de fazer o que parece ser certo Fugir do limite das linhas rectas e contínuas Percorrer livremente todos os caminhos e explorar todas as possibilidades Deixar de fazer as transições de forma suave, delicada e harmoniosamente perfeitas Tirar partido do impacto entre a força e leveza do gesto Explorar novas técnicas Variar um pouco aquilo que parece seguir sempre o mesmo ritual Porque tudo o que é repetitivo pode dar origem ao aborrecimento, ao desinteresse Mesmo que para isso seja necessário fugir da zona de segurança Não ter medo de arriscar Não ter medo de falhar [já sabemos que se aprende muito com os erros] Para algo ser bem feito, normalmente é preciso praticar e sem risco não há treino Dominar os movimentos de maneira que sejam espontâneos e ao mesmo tempo eficazes Atingir o efeito pretendido e deixar de andar apenas em zonas planas, pobres em textura Olhar para ti e ver a tua transformação Passar do vazio, do triste e f

Nas gotas do orvalho

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Dentro de todos nós existe uma fonte que liberta sentimentos Sabemos isso como também sabemos de onde vem a chuva Independentemente do estado em que se encontram Quando entram em acção Ambos conseguem fazer coisas grandiosas E Ambos conseguem criar o caos, ou o que isso pode significar Mas o melhor, é conseguir ver o reflexo do nascer do sol Nas gotas do orvalho da noite, Grandiosas em todo o minúsculo espaço que ocupam Nesse mundo gigante Que cada vez está mais fora do nosso alcance, do nosso controle Onde catástrofes acontecem todos os dias Umas mais devastadoras do que outras é certo Mas todas altamente destrutivas Levando consigo vidas, famílias, histórias de vida, anos de luta… Deixando no ar a poeira da destruição Que lentamente se deita sobre o chão em lençóis de dor À espera que aqueles que ficaram Ainda tenham de sofrer + ...Mas depois disso tudo, há ainda quem diga que isso é como passar um fim de semana num parque de campismo, ao ar livre, ao relento. Há pessoas que não mede

Mia Coutro - Fui Sabendo de Mim

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Hoje faço das palavras de alguém as minhas palavras e porque elas por vezes são como sequências de cruzamentos, não são precisas muitas para nos dividirmos em múltiplas direcções, escolhas, umas mais correctas do que outras, mas no final todas são importantes. Porque é que há um dia para dizer mentiras?! Fui sabendo de mim por aquilo que perdia pedaços que saíram de mim com o mistério de serem poucos e valerem só quando os perdia fui ficando por umbrais aquém do passo que nunca ousei eu vi a árvore morta e soube que mentia. Mia Couto

Earthquake

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De um momento para o outro foi como se sentisse um tremor de terra, a morte da imobilidade, o chão parecia falhar e balançar debaixo dos meus pés como se estivesse tudo dentro de um baloiço gigante, e por mais que tentasse estar quieto, eu sabia que era tempo perdido. As paredes embalavam-se mutuamente e o tecto fazia companhia ao movimento do chão. Apesar de toda esta agitação, todo esse frenesim, eu ouvia somente o silêncio, o silêncio proveniente do poderoso som das palavras que se sobreponham umas às outras como se fossem ganhando velocidade e perdendo controle e ao mesmo tempo a ganharem dimensões cada vez maiores. Até que elas esgotaram-se e apercebi-me que afinal estava tudo imóvel à minha volta, e o terramoto, era apenas eu a tentar lidar com o impacto, um impacto que não é o de acidente rodoviário, é um impacto que não sei descrever. Agora que a tempestade vai passar e resta esperar que depois chegue a bonança [como costumam dizer] para voltar a arrumar as palavras que se espa

Contradições

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Sentado no meio do nada encontro-me a vaguear na ansiedade de querer viver tudo e não querer viver nada ao mesmo tempo. Na inquietude de querer ter um álbum de páginas ilimitadas e nele guardar um areal de recordações e ao mesmo tempo ter uma sebenta repleta de páginas em branco sem o mais pequeno rabisco. No desassossego de querer recordar o dia de ontem, mas querer chegar ao dia de amanhã e não querer recordar o dia de hoje. No silêncio e no calor do meu canto eu encontro a paz, a tranquilidade e o controle que me faz sentir bem, mas sei que tudo isso é relativo e temporário, porque basta olhar através da mais pequena brecha para ver e ouvir o verdadeiro som da realidade, o turbilhão de actos, palavras e sentimentos que me ultrapassam. Fico com vontade de fugir para o calor de uma fogueira no interior de uma caverna e limitar-me a ficar ali sentado a olhar para a dança das sombras nas suas paredes irregulares até adormecer e esquecer os problemas em vez de vaguear nas contradições q

Muro

O meu olhar perde-se nos tons de amarelo e vermelho [e por consequência nos de laranja também] de mais um por-do-sol e imagino que estou na minúscula janela daquele moinho que visto à distância, se funde no resto de tudo o que o rodeia, como se ele fizesse parte daquele conjunto e assim fosse permanecer para sempre, não passando tudo de uma sombra à frente do calor daquelas cores. Há já algum tempo que as hélices, ou pás, daquele moinho se desprenderam do vento e estão agora jungidas até a o último sopro do meu estado de espírito, do meu coração. Por esse motivo, o seu movimento tem sido inconstante e imprevisível. Ora está sereno como o leve abanar de uma espiga de trigo, ora está agitado como um cata-vento num dia de Inverno. Quando não estou lá, estou no mundo real a tentar enfrentar as contradições daquilo que tem de ser, daquilo que deve ser e daquilo que eu gostaria que fosse, e por momentos, o meu caminho parece ser abruptamente interrompido por um enorme muro que me diz ser a

O regresso do respiradouro

Hoje deixo aqui mais uma das excelentes cenas desta série [mesmo que aquilo que esteja por detrás das imagens seja algo triste]. E para quem a acompanha não será necessário fazer grandes comentários acerca desse já conhecido respiradouro e o seu significado. Agora, quando o respiradouro já parecia estar um pouco esquecido, eis que ele surge novamente como se fosse um toque de mestre, e tal como a cena mostra, nem sempre são precisas palavras para percebermos o que nos querem dizer ou para fazermos os outros perceberem o que queremos dizer. Eu pessoalmente tenho tendência em fazer perder as palavras que tenho e já o faço quase inconscientemente, é como se as encontrasse dentro de mim e não conseguisse fazer nada com elas porque não arranjo maneira de as tirar do meio da confusão, quase ao ponto de me engasgar com elas. É como se estivesse a comer uma ameixa e a pevide ficasse presa na minha garganta. Um respiradouro era capaz de ser o que faltava para fazer as palavras verem a luz do di

Seis no Quarto

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Eram seis pessoas num quarto, mais precisamente três casais, amigos e familiares, [não vou falar de nada relacionado com "swingers" nem nada do género, aliás, nem sei bem do que vou falar] e até que não sei muito acerca daquele quarto ou de como foram ali parar e porque motivo estavam reunidos. Eram um quarto comum, tinha quatro paredes, como a maioria dos que conhecemos, mas nem sei qual era a cor delas, talvez um verde azeitona com riscas amarelas escuras. Naquele quarto reinava o silêncio, e as pessoas, umas sentadas no chão, outras na cama ou numa cadeira, por vezes trocavam o olhar quando não estavam concentradas na pequena televisão que não passava nada de interessante, talvez algum filme que já dera na televisão diversas vezes e que agora não despertava interesse. Eram pessoas que se viam algumas vezes e outras que se conheciam, mas não se viam. Não sabiam o que dizer e limitavam-se a estar unidos por uma caixa com luz e som...era uma oportunidade desperdiçada, tempo