Muro

O meu olhar perde-se nos tons de amarelo e vermelho [e por consequência nos de laranja também] de mais um por-do-sol e imagino que estou na minúscula janela daquele moinho que visto à distância, se funde no resto de tudo o que o rodeia, como se ele fizesse parte daquele conjunto e assim fosse permanecer para sempre, não passando tudo de uma sombra à frente do calor daquelas cores. Há já algum tempo que as hélices, ou pás, daquele moinho se desprenderam do vento e estão agora jungidas até ao último sopro do meu estado de espírito, do meu coração. Por esse motivo, o seu movimento tem sido inconstante e imprevisível. Ora está sereno como o leve abanar de uma espiga de trigo, ora está agitado como um cata-vento num dia de Inverno. Quando não estou lá, estou no mundo real a tentar enfrentar as contradições daquilo que tem de ser, daquilo que deve ser e daquilo que eu gostaria que fosse, e por momentos, o meu caminho parece ser abruptamente interrompido por um enorme muro que me diz ser amigo ou inimigo, como se ficasse ao meu critério decidir o que pensar acerca da razão da sua existência. Tentar trepá-lo não vale a pena porque não tenho onde me agarrar e creio que não possuo capacidades de alpinista... Além disso não sei o que está no seu topo ou o que encontrarei se quando descer no outro lado, talvez fosse apenas encontrar novelos de arame farpado ou pedaços de vidro estilhaçados e com os dentes à mostra.

Enfim, apesar de os dias, as semanas ou os meses não parecerem estarem a ser longos, hoje fica aqui "It's been a long day" de Rosi Golan porque por vezes a monotonia assume proporções inversas às do tempo.

Comentários

  1. "por vezes a monotonia assume proporções inversas às do tempo." Complexa a frase...interessante o sentido, pelo menos o que lhe dou :-p

    Eu tenho pensado no meu muro. Com os passar dos anos ele devia estar-se a desmoronar mas não, incrível como o que nos faz mal consegue reforçar-se com o passar das horas, dos dias, dos meses...

    *Hugs n' smiles*
    Carlos

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