Mãe...filho


"Ahhh...Realmente as mães nunca têm os filhos que gostariam de ter..." Eis uma conversa que se atravessou ao meu lado e que de imediato chamou a minha atenção como se eu estivesse prestes a atravessar uma rua e alguém, por algum motivo, me puxasse para trás. Os momentos seguintes foram preenchidos com fragmentos de pensamentos em forma de questões arredondadas e relacionadas com aquela conversa.
Certamente que escondido atrás das palavras proferidas por aquela senhora, devem existir razões que na opinião dela, justificam tal afirmação, razões que desviam a atenção para os piores adjectivos, para as piores decisões que um filho pode tomar e por conseguinte, para as piores atitudes. 
Estarão todas as mães desiludidas com os seus filhos?! Obviamente que não. Que bonito sarilho seria esse! Sei que  poderão ser muitas as vezes que a desilusão fala mais alto e atinge-as como se quebrasse um vidro, mas a nível geral acredito que lá no fundo existe o amor pelos seus filhos e, como reflexo disso, um certo tipo de orgulho neles, ou não fosse o laço criado entre uma mãe e um filho algo extremamente forte, que não se quebra tão simplesmente e não deixa lugar para algo tão degenerativo como a desilusão.
Entretanto também consigo posicionar-me no outro extremo e compreendo que muitas mães passam por situações que as fazem pensar e sentir que falharam por completo, tais como verem um filho transformar-se num marginal, num toxicodependente, numa pessoa egoísta e de propósitos negativos.
Nascemos "planos" e vamos sendo moldados pelas acções, gestos, palavras, afectos, olhares e silêncios daqueles que nos rodeiam e progressivamente vamos aprendendo a filtrar o que os outros nos dão, o que o mundo nos dá, e vamos formando quem somos. Por mais avançada que esteja a ciência, ainda não fazemos parte de uma geração de "seres" pré-programados que possam ser encomendados por catálogo, em que as chances de desiludir os consumidores, os pais, provavelmente serão mínimas ou pelo menos mais reduzidas. Crenças religiosas, visões políticas, tendências sexuais e outros aspectos, não deveriam fazer parte da lista de critérios que aumentam o risco de um filho desapontar uma mãe ao ponto de se quebrar o tal laço afectivo que os une.
Será que no meio dessa desilusão, elas, mães, também se sentem responsáveis e culpadas por trazerem ao mundo uma pessoa que acreditam ser uma erva daninha?!
Ao saberem que vão dar à luz uma criança, quais são as suas expectativas para as diferentes fases da vida dessa criança?
Por mais que se queira colocar as coisas numa frase tão redutora como aquela que deu origem a essas palavras, não se consegue porque o universo Mãe-Filho é de tal forma vasto que todas as suas variantes são equivalentes a relações únicas e que não se podem resumir num só adjectivo.
Curiosamente, a conversa que surgiu uns minutos depois, vinda de outro quadrante, veio mesmo a calhar e integra-se aqui na perfeição.

- Olá Ana!
- Olá!
- Então, já sabes da novidade?!
- Não...o que é?
- Vou ser mamã! 

Comentários

  1. Vou deixar de lado o meu "silêncio" que tenho tido em relação aos blogs mas não podia deixar de :-) pelas palavras. A forma como começa e acaba o texto é excelente e no meio está o "recheio".

    Abraço,
    Carlos

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