Aqui tem, Menino!
Pois, parece que afinal ainda sou um menino. Mas isso é mau ou é bom? Preferes ser um adulto ou um menino? O que é isso de nos tratarem por menino, ou sermos um menino quando já não se é suposto ser um?! Talvez seja uma forma gentil de tratar as outras pessoas que achamos simpáticas... Será acreditar na inocência da pessoa tratada por menino? Talvez não queira dizer nada, simplesmente nada. Mas há dias em que a maneira como interagimos com algumas pessoas, nos deixa a pensar em várias coisas. Esse exemplo do menino, e também quando alguém que nem conhecemos, mas que ao passar por nós, nos dá um "bom dia", faz-me acreditar que há uma réstia de esperança no que respeita ao sentimento de solidão, isolamento, individualismo e egocentrismo que a sociedade acaba por demonstrar.
By the way, essa história do menino vem na sequência do atendimento numa loja, mais precisamente num café, por uma jovem que acredito ter mais ou menos a minha idade (como não se pergunta a idade a uma senhora, terei de ficar sempre na dúvida se ela terá ou não quase a mesma idade do que eu).
A dona da loja é uma senhora com a sua idade, é viúva, mas não veste preto. O marido fazia questão de a querer vestida com as cores da vida porque para ele, a vida era para ser vivida e não lamentada constantemente. Preto era sinónimo de escuridão, do nada, do vazio, era o momento em que ele sabia que ia fechar os olhos para sempre e por isso, ela veste as cores.
Hoje, creio que se pode afirmar que já faz algum tempo que a infelicidade lhe bateu à porta, levando-lhe sem licença, uma parte dela, uma parte do equilíbrio da vida dela. Com o passar dos anos ela teve de reaprender a viver, a estar no mundo com essa falta de equilíbrio. Ela teve de aprender a sair de casa sozinha. deixando para trás a casa sozinha, deixando para trás a saudade agarrada às paredes de casa. Assim, sozinha, tinha de enfrentar diariamente as caras dos clientes que a visitavam no seu negócio de família, um pequeno café, que, ao contrário de muitos outros, da maioria, resiste às ondas sonoras da rádio e às explosões de cor da imagem de uma televisão. O som predominante, não contando com o barulho dos copos, das chávenas, das colheres, dos pratos, é o som das vozes das pessoas. Ela permanece serenamente ao balcão, como se estivesse ocupando o posto que é dela e que sempre o foi, fica observando as 13 mesas que preenchem o amplo espaço aberto daquele estabelecimento. Há dias em que ela mão suporta esse som das pessoas, ou o ambiente que a rodeia, e ela então foge. Foge sem correr e desaparece como se evaporasse, e refugia-se no sossego da pequena divisão que existe no corredor cujo acesso é feito pela porta localizada atrás do balcão principal. Lá, e nesses momentos, ela sabe que desilude o marido, porque não consegue aguentar e chora no escuro, chora compulsivamente e deixa sair de dentro de si a raiva, a frustração, e uma série de outros sentimentos que se acumulam até não haver mais espaço dentro dela. Ninguém parece ver isso, mas lá no fundo da sala, alguém que ouve música através de uns auscultadores, observa todas essas movimentações como se assistisse a uma peça de teatro com a sua própria banda sonora, enquanto faz passear uma esferográfica por uma folha de papel.
"Que música é que o menino está a ouvir?"
Pareciam ser as palavras que os lábios da jovem desenhavam.
- Esta.
By the way, essa história do menino vem na sequência do atendimento numa loja, mais precisamente num café, por uma jovem que acredito ter mais ou menos a minha idade (como não se pergunta a idade a uma senhora, terei de ficar sempre na dúvida se ela terá ou não quase a mesma idade do que eu).
A dona da loja é uma senhora com a sua idade, é viúva, mas não veste preto. O marido fazia questão de a querer vestida com as cores da vida porque para ele, a vida era para ser vivida e não lamentada constantemente. Preto era sinónimo de escuridão, do nada, do vazio, era o momento em que ele sabia que ia fechar os olhos para sempre e por isso, ela veste as cores.
Hoje, creio que se pode afirmar que já faz algum tempo que a infelicidade lhe bateu à porta, levando-lhe sem licença, uma parte dela, uma parte do equilíbrio da vida dela. Com o passar dos anos ela teve de reaprender a viver, a estar no mundo com essa falta de equilíbrio. Ela teve de aprender a sair de casa sozinha. deixando para trás a casa sozinha, deixando para trás a saudade agarrada às paredes de casa. Assim, sozinha, tinha de enfrentar diariamente as caras dos clientes que a visitavam no seu negócio de família, um pequeno café, que, ao contrário de muitos outros, da maioria, resiste às ondas sonoras da rádio e às explosões de cor da imagem de uma televisão. O som predominante, não contando com o barulho dos copos, das chávenas, das colheres, dos pratos, é o som das vozes das pessoas. Ela permanece serenamente ao balcão, como se estivesse ocupando o posto que é dela e que sempre o foi, fica observando as 13 mesas que preenchem o amplo espaço aberto daquele estabelecimento. Há dias em que ela mão suporta esse som das pessoas, ou o ambiente que a rodeia, e ela então foge. Foge sem correr e desaparece como se evaporasse, e refugia-se no sossego da pequena divisão que existe no corredor cujo acesso é feito pela porta localizada atrás do balcão principal. Lá, e nesses momentos, ela sabe que desilude o marido, porque não consegue aguentar e chora no escuro, chora compulsivamente e deixa sair de dentro de si a raiva, a frustração, e uma série de outros sentimentos que se acumulam até não haver mais espaço dentro dela. Ninguém parece ver isso, mas lá no fundo da sala, alguém que ouve música através de uns auscultadores, observa todas essas movimentações como se assistisse a uma peça de teatro com a sua própria banda sonora, enquanto faz passear uma esferográfica por uma folha de papel.
"Que música é que o menino está a ouvir?"
Pareciam ser as palavras que os lábios da jovem desenhavam.
- Esta.
... uma sensível divagação das coisas que vamos observando no nosso quotidiano.
ResponderEliminarNeste caso, do teu! E nas coisas estão, regra geral, inseridas pessoas! Perante o olhar, ou no olhar interior que tantas vezes nos 'assalta'...
Essa senhora, no seu silêncio certamente transportará este segundo olhar! Daí a quietude do meio envolvente.
Uma nota de esperança que me permite pensar que ela ainda 'carrega' como sentimento libertador: a cor!
Um beijo,
(esse tratamento de menino/menina - simplificação, neste país, de 'aculturação'!?