2021.4 - Livro FELICIDADE - João Tordo

FELICIDADE - Livro de João Tordo

Muitas vezes avanço para a leitura de um livro após já ter lido a sua sinopse há algum tempo e, apesar de saber que escolhi aquele livro para ler, pouco mais sei sobre ele e por isso acaba por ser uma viajem rumo ao desconhecido. Após terminar a leitura do livro, então, aí volto a reler a sinopse para verificar se a mesma está de acordo com aquilo que li. Tendo dito isso, posso dizer que a sinopse deste livro faz, em grande parte, jus ao mesmo, e importa dizer isso porque muitas vezes o que lemos na sinopse, acaba por não corresponder à realidade, defraudado assim, em diferentes graus, as nossas expectativas em relação ao livro. Aqui, felizmente, o resultado é o oposto, pois o livro oferece - nos muito mais do que aqueles tópicos ali referidos.
Uma das primeiras curiosidades em relação em livro é o seu próprio título, que embora seja algo que faz parte dos anseios da grande maioria de nós, e por conseguinte das personagens do livro, funcionando como um espelho, é, também, o nome de uma personagem fulcral na história e certamente que sua escolha não foi obra do acaso (digo eu, pois ainda não li ou vi o que tem o autor a dizer acerca desta obra).
O incidente trágico, mencionado na sinopse e que afecta a vida do personagem principal, acaba por ser algo que tem o seu quê de ridículo, mas que ainda assim é possível acontecer, sendo portanto, algo trágico e cómico para quem está na nossa posição de leitor. Sendo algo que pode acontecer, basta tentarmo-nos imaginar na pele do personagem para nos sentirmos também numa encruzilhada, numa espécie e beco sem saída, numa aflição desmedida.
Uma das coisas que me agrada neste livro é o facto de retratar aspectos da vida, aspectos esses que que nos toca a todos, já que são situações às quais muitos de nós, ou conhecidos nossos, podemos estar sujeitos. Para complementar isso temos ainda a construção, bem estruturada, das personagens, que está também associada à forma como o livro está estruturado, não nos revelando as coisas de forma linear em termos temporais e, por isso, vamos ficando sempre curiosos com o que vai sendo desvendado da história das personagens. Como acompanhamos as personagens durante vários anos, ou fases das suas vidas, é como se acabássemos, de certa forma, por conhece-los ou criar alguma proximidade em relação às mesmas. Ao longo do livro o autor vai revelando certas situações, ou desfechos, fazendo - nos esperar que chegue a hora certa de sabermos afinal o que se passou (ou se foi passando) ou o que ele queria dizer com aquilo que havia mencionado previamente. Ele vai de certa forma, pondo "negaças" ao leitor, como forma de o manter preso à leitura.
Tópicos como a família, o luto, o fracasso VS sucesso, a solidão, o amor, os sonhos que ficam por concretizar ou não, a liberdade (aqui muito relacionada com o 25 de Abril, que é uma fase temporal presente no livro), a amizade, etc.... estão todos presentes neste livro, o qual não necessita de inúmeras personagens para os abordar de forma realista, convincente e cativante.
As personagens, aparentemente dotadas de uma dualidade que oscila entre o simples e complexo, têm a mais valia de parecerem pessoas com quem eventualmente já nos cruzamos no passado (nos tempos de escola por exemplo) ou até no presente, e é por isso que, ao longo do livro, são feitas várias referências à mitologia grega, onde até mesmo os grandes Deuses têm as suas falhas, fragilidades, e são testemunhas, ou autores, de actos que podem ser atrozes, trágicos ou até mesmo ridículos.
"Talvez meu tio soubesse que aquele jantar em nossa casa era o seu último jantar em família; por ventura as pessoas sabem, no seu íntimo, que vão morrer jovens, se calhar pressentem-no no corpo e no espírito, e a única coisa que podem fazer é tirar partido dos poucos dias que lhes restam."
"Contudo, precisávamos de poder vê-las para sabermos o que significavam para nós, para formularmos acerca delas as nossas próprias conclusões. Para sermos livres de, em última análise, não nos querermos sentir assim tão livres; ainda que pudéssemos concluir que a liberdade era também responsabilidade, e que responsabilidade era um fardo que somávamos a todos os outros que o facto de estamos vivos nos depositava sobre as costas.
Passei o 25 de Abril dentro de um espartilho chamado medo."
SINOPSE
Lisboa, 1973
Nas vésperas da revolução, um rapaz de dezassete anos, filho de um pai conservador e de uma mãe liberal, cai de amores por Felicidade, colega de escola e uma de três gémeas idênticas.
As irmãs Kopejka são a grande atracção do liceu: bonitas, seguras, determinadas, são fonte de desejos e fantasias inalcançáveis.
Respira-se mudança - a Europa a libertar-se das suas ditaduras e Portugal a despedir-se da velha ordem - e vive-se a promessa da liberdade, com todos os seus riscos e encantos. É neste tempo e neste mundo, indeciso entre tradição e modernidade, que o nosso narrador cai num abismo pessoal.
A primeira noite de amor com Felicidade acaba de forma trágica, e o jovem vê-se enredado na malha inescapável das trigémeas Kopejka, três Fúrias que não tem poderes para controlar. À semelhança de uma tragédia grega, o herói encontra-se subjugado por forças indomáveis, preso entre dois mundos.
Felicidade é uma história de amor e assombração nas décadas que transformaram Portugal. Um romance enfeitiçante, repleto de ironia e humor, de remorso e melancolia, em que João Tordo aborda os temas do amor e da morte, e das pulsões humanas que os unem.

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