Cidades de Papel



É o título do 2º livro de John Green que tive oportunidade de ler. Não valerá a pena comparar ao "A Culpa é das Estrelas" por se tratar de livros diferentes, mesmo tendo aspectos em comum. Ao passo que esse último ["A Culpa é das Estrelas"] centra-se mais numa história de amor quase condenada, em "As Cidades de Papel" há talvez um maior destaque para a amizade em geral e a forma como as pessoas se relacionam, fazendo de certa forma uma crítica à sociedade moderna constituída em grande parte por "pessoas de papel".

Na história deste livro acompanhamos um grupo de amigos, estudantes a finalizar o liceu que preparam essa mesma fase das suas vidas já com algumas perspectivas para o que possa vir depois disso. Entretanto acabam por se ver envolvidos numa busca por uma pessoa (colega de escola ou amiga, tudo depende do que se entende por 'amiga') que desaparece ou decide desaparecer. Esse desaparecimento, voluntário ou talvez não, levanta uma série de questões (sobretudo ao personagem principal - Quentin ou simplesmente 'Q.') que põem em causa o significado de várias coisas fazendo com que a busca pela pessoa desaparecida seja também uma busca por respostas e uma auto-aprendizagem sobre o "quem sou eu" perante os outros e vice-versa.

Uma das conclusões apresentadas e que não me passou ao lado foi o facto de por vezes termos a tendência de ignorar, ou simplesmente desligar-nos, de certas pessoas porque já efectuamos o nosso julgamento daquela pessoa e, segundo os nossos critérios, ela não foi aprovada por não corresponder às nossas expectativas porque, como acontece no livro, procuramos talvez pessoas perfeitas, sem defeitos, que sejam aquilo o que esperamos delas, não dando assim espaço, nem tempo, para um verdadeiro conhecimento da pessoa como ela é na realidade. Ou seja, e resumindo, não podemos exigir que as pessoas sejam o que queremos que elas sejam, mas sim o que elas são e tentarmos conviver e interagir com o próximo tendo isso em mente, tentando ao mesmo tempo que aquela pessoa também nos aceite tal como somos, fazendo um lugar não só para as nossas qualidades, mas também para os nossos aspectos menos positivos ou virtuosos.  

Alguns pequenos excertos ou frases do livro...

"Você sabia que na maior parte de toda a história da humanidade a esperança média de vida foi inferior a trinta anos?... Não havia planos. Não havia tempo para planear. Não havia tempo para o futuro. Mas depois a esperança de vida começou a aumentar e as pessoas começaram a ter mais e mais futuro e a passar mais tempo pensando nele. No futuro. E agora a vida tornou-se o futuro. Todos os momentos da vida são vividos no futuro: Frequentas a escola para entrar na faculdade para arranjar um bom emprego para comprar uma boa casa e mandar os filhos para a faculdade para que eles consigam encontrar um bom emprego para comprarem uma boa casa para mandar os filhos para a faculdade."

"Em algum momento tu precisas deixar de olhar para o céu, ou um belo dia, quando olhares novamente para baixo, vais-te dar conta que também saíste flutuando por aí."

"Gosto dos fios [a propósito de uma das personagens dizer que o seu interior pode estar seguro ou composto devido aos fios que lá existem]. Sempre gostei. Porque é exactamente assim que eu me sinto. No entanto, acho que eles fazem a dor parecer mais fatal do que realmente é. Não somos tão frágeis quanto os fios nos fariam acreditar. E gosto da relva também. Foi ela que me trouxe até ti, que me ajudou a imaginá-lo como uma pessoa de verdade. Mas não somos rebentos da mesma planta. Eu não consigo ser tu. Tu não consegues ser eu. Por mais que tu imagines o outro, nunca o imaginarás com perfeição, não é?"

"Talvez seja mais como disseste antes, rachaduras em todos nós.Como se cada um tivesse começado como um navio inteiramente à prova de água. Mas as coisas vão acontecendo. As pessoas se vão,  ou deixam de nos amar, ou não nos entendem, ou nós não as entendemos... e nós perdemos, erramos, magoamos uns aos outros. E o navio começa a rachar em determinados lugares. E então, quando o navio racha, o final é inevitável.... Mas ainda há um período entre o momento em que as rachaduras começam a abrir-se e o momento em que nós nos rompemos por completo. É nesse intervalo que nós nos conseguimos perceber uns aos outros, porque vemos além de nós próprios, através das nossas rachaduras, e vemos dentro dos outros através das rachaduras deles."

Já li algumas comparações que tentam exprimir ou demonstrar de algum modo o "prazer da leitura", mas a que li nesse livro ainda não conhecia e não podia deixar de reparar nela (mesmo que ela tente em primeira mão demonstrar o prazer de outra coisa):
"Eu queria interromper o xixi, mas é claro que não consegui. Urinar é como ler um bom livro: é muito, muito difícil parar depois de se começar."


Comentários

  1. Primeiro: já foi lançado um outro livro dele e como podes imaginar e já em pulgas para o ler. É sobre um rapaz que só namorou com raparigas de nome Katherine...mas vejo que apareceu mais livros para ler do que aqueles que leio. "Resurrection" está a ser lido muito devagarinho mas tem partes muito interessantes. :-)

    Segundo: Apesar de ter adorado "A Culpa é das estrelas" este vai ao encontro de quem eu sou e tem tantas passagens interessantes que quando li o teu post pensei "tenho que o voltar a ler".

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    1. 1 - É mais um livro de John Green que deve valer a pena ler. O Teorema de Katherine é capaz de ser interessante, pois não deve ser fácil ser-se "rejeitado" 19 vezes .-P.

      2 - Percebo que te revejas em certos aspectos que o livro aborda e muito bem, pois à semelhança dos excertos que aqui deixei, há nesse livros aquelas passagens que fazem com que nos identifiquemos com elas tornando o livro numa daqueles que vale a pena ler.

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  2. Esse livro é dos que li e que me revi em algumas parte, mas se o tivesse lido quando era adolescente muita coisa iria me passar ao lado. É um livro "cheio". .-)

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