Há mais de uma década
Há mais de uma década que não te via. Não te via a ti e não via a tua prima e mais umas quantas pessoas. Hoje encontrei-te, no entanto continuo sem nunca mais ter visto a tua prima e sem saber nada sobre o seu paradeiro. Não é que ela esteja desaparecida do mundo, pois é possível que ela só esteja desaparecida para aquelas pessoas que possam pensar nela e nunca mais tiveram notícias sobre ela. Certamente estará a fazer o que muitos de nós faz...viver a sua vida.
Mas voltando ao encontrar-te...Foi com surpresa que reagimos por estarmos frente a frente novamente depois deste tempo todo. Foi sem dúvida um encontro relativamente fugaz, quase um encontro de quem passa na rua e cumprimenta alguém que também por acaso trilhava aquela rua como parte de um destino ou de uma partida. Felizmente houve tempo para trocar algumas palavras, que sempre sabem melhor do que um cumprimento exprimido através de uma pergunta sem resposta, uma daquelas perguntas solitárias que já não esperam resposta. De outros tempos, ficaram-me na memória os teus traços de Van Gogh quando desenhavas. Com relativa rapidez, em gestos decididos, transformavas uma folha de papel numa espécie de obra de arte com características muito próprias. Queria perguntar-te se nos dias de hoje ainda davas uso às tuas habilidades, mas essa foi uma pergunta que acabou por ficar para trás e era uma das que mais queria que tivesse resposta. Duvido que tivesses optado por jornalismo ou algo do género, mas achei curioso tirares de debaixo do braço, ou de uma mochila, um bloco de notas e nele anotasses as perguntas que me ias fazendo e as respostas que te ia dando. A tua letra, que via nascer nas linhas do papel enquanto escrevias, quase que servia de resposta àquela pergunta que te queria fazer, no entanto, podia ser que agora fosses médico ou farmacêutico. Não sei, nem saberei até talvez podermos trocar mais algumas palavras. Queria perguntar-te sobre a vida, sobre os anos que passaram, mas após tomares algumas notas no teu caderno, optamos por seguir em frente no caminho, no qual ainda pudemos caminhar lado a lado mais um pouco, até teres chegado ao teu destino que, pensando bem, poderia ser somente mais um ponto de partida para ti. Mas isso é outra coisa que também não sei e nem saberei até talvez podermos trocar mais algumas palavras. Nessa altura poderei perguntar-te para que país ou cidade compraste o bilhete quando entraste naquela agência de viagens e eu continuei em frente no caminho que me esperava.
Entretanto continuo a guardar na memória os sons das notas do violino que a tua prima tocava e que nunca tive oportunidade de assistir, de ouvir. Guardo na memória lembranças de músicas imaginárias, de concertos por existir, de magia por acontecer. Será que ela ainda toca violino?! Nem sequer sei e se calhar só saberei quando tiver oportunidade de me cruzar com ela algures.
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