You Have Mail

O excerto do texto que deixo abaixo foi usado para acompanhar uma exposição de pintura de Diana Costa, denominada YOU HAVE MAIL. Deixo esses fragmentos aqui porque gostei muito da exposição, tanto das pinturas como deste texto que fortalece a ideia que a artista quer transmitir através das suas obras.
Num mundo onde cada vez há mais formas de comunicação, que supostamente deveriam unir as pessoas de forma mais eficaz, é possível obaservar-se situações que mostram exactamente o oposto. Um oposto onde as pessoas parecem estar cada vez mais isoladas, mais fechadas, mais afastadas. No entanto é preciso não devalorizar a importância dos meios de comunicação como a internet e o "quase" indispensável telemóvel, que nos disponibilizam uma imagem daqueles que queremos perto de nós (ou até mesmo daqueles que não queremos sequer ouvir falar), nas pontas dos nossos dedos, tal como diz na música "Falling of a Log" de Tracey Thorn:

"Woke up this morning to the smell of rain
Tears running down your window pane
Little pictures on your telephone
To remind you that you're not alone"

Sem estes meios temos de admitir que as coisas seriam bem diferentes do que são hoje, tanto no sentido negativo, como no sentido positivo.
E numa pequena caixa de sapatos estão guardados postais de outrora pertenceram a alguém que os recebeu, alguém que foi contemplado pelo abraço de umas palavras escritas num postal com uma imagem de um lugar distante que talvez tenha visitado, onde talvez tenha feito amigos e ao deixá-los para trás, trouxe consigo a amizade. A amizade rejuvenescida pelas linhas preenchidas de uma postal. Um postal que foi tocado, que foi sentido, que não é virtual e que não deixa de existir com o clique de uma tecla.

Como diz no texto, há quem resista e ainda pegue na caneta e passe para um suporte de papel um beijo, um abraço, um aperto de mão, um olhar, um aceno. É bom que haja quem resita, pois por mais que se inove, há acções e valores que não vale a pena deixar desaparecer com uma gota de tinta num balde de água. Saberemos que a tinta estará lá, mas estará de tal forma diluida que é como se nem estivesse.

JÁ NINGUÉM ESCREVE / JÁ NINGUÉM LÊ

"Já ninguém escreve a ninguém, já ninguém lê coisa alguma. E, no entanto… Cada vez se escreve mais a mais pessoas; cada vez se lê mais correspondência de mais pessoas. Mas que pessoas? Destinatários sem rosto recebendo mensagens de emissores também sem rosto. Conhecidos em vez de Amigos, relações comerciais em vez de conhecidos… Talvez já possam até ser simples máquinas a gerar mais e mais informação para outras máquinas lerem, interpretarem e darem resposta. Ou as pessoas, como máquinas, debitando dados sobre dados, respondendo sem alma a estímulos mecânicos.
E, no entanto… Alguns resistem, continuam a escrever postais, cartões, cartas: convencionais cartas de parabéns ou de luto, lindas cartas de amor, entusiasmadas descrições de paisagens… Alguns mantêm a fidelidade da caneta correndo sobre o papel. Ou transferem para o ecrã a energia desses textos e a imaginação do manuscrito. O mundo ainda é infinito e as suas possibilidades; ainda não é agora que a poesia ou a arte, a raiva ou o amor vão acabar…(...)".

João Lima Pinharada (Lisboa 2007)

Comentários

  1. O excerto que escolheste da música da Tracey Thorn é dos que mais gosto...para mim juntamente com a música é um dois em um.

    Gostei do quadro da Diana Costa, não apenas pela mensagem mas a combinação das cores está excelente. Está lá um pouco de tudo.

    Acho que não preciso de dizer nada no que toca escrever. Eu espero que nunca se perca o "bom" hábito de escrever uma carta, um postal...seja o que for :- )

    *Hugs n' smiles*
    Carlos

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