No limiar
Naquele dia da semana que não era dia de semana por ser um dia diferente dos restantes, na tarde daquele dia, a familia juntou-se toda, ou quase toda, ou pelos menos o que puderam estar presentes, ou pelo menos os que realmente eram precisos estarem presentes. Depois de atravessarem um enorme corredor de árvores, juntaram-se todos naquela pequena capela onde baloiçava um ambiente de nostalgia e de liberdade, despreocupação. Entrei lá mas afinal não estava ninguém e talvez tenha imaginado aquelas pessoas em algum daqueles sonhos repeltos de incoerência, surrealismo, e encontrava-me agora desperto para a claridade que mesmo assim era ofuscante e no meio do silêncio que animava todos os espaços daquele lugar, sentei-me no chão de pedra, apoiando o queixo sobre as mãos e os cotovelos sobre os joelhos. Após algum tempo, e a convite do silêncio, fechei os olhos e entrei na porta do adormecimento e ao fechar a porta olhei para trás e vi grupos de pessoas a sairem com destinos incertos e aleatórios. Há pessoas que ficam na porta paradas, talvez na dúvida, na hesitação, e sinto que elas não querem ficar ali e que a qualquer momento se afastam, que a qualquer momento acabam de fazer o que já começaram. De que é que tenho medo? Das pessoas que estão ali paradas no limiar do estar presente, do estar ausente? De ficar na companhia de ninguém? De achar que a companhia de ninguém é melhor do que conhecer a ausência de quem já esteve presente e agora está na porta?
Album Leaf - "Always for you"
Antes de mais, deixas-te no limiar porque ao ouvir a música dos Album Leaf fiquei a pensar de onde é que a conhecia...ouvi a música até ao fim e só depois é que li que eram os ALbum Leaf. O sonoridade é única!
ResponderEliminar"De que é que tenho medo? Das pessoas que estão ali paradas no limiar do estar presente, do estar ausente? De ficar na companhia de ninguém? De achar que a companhia de ninguém é melhor do que conhecer a ausência de quem já esteve presente e agora está na porta?"
Não sei se a companhia de ninguém é melhor que conhecer a ausência de quem já esteve presente...não sei se o ditado "mais vale só que mal acompanhado" está ligado a esse teu pensamento. Mas se alguém nos deixa unicamente a sua ausência é porque a presença de pouco ou nada de especial tinha.
É deixar que o vento faça a porta se fechar, mas todos nós corremos o risco de ficarmos com os dedos entalados nessa mesma porta, quando nos damos conta que a ausência é um rebuçado amargo quando o julgávamos doce!
*Hugs n' smiles*
Carlos