O dia da visita...
Era quarta-feira, dia 8 de Novembro, dia de ir visitar uma moradia na companhia de 2 pessoas desconhecidas, pai e filho. Tinham vindo da Suécia e procuravam uma moradia para uma possível mudança de residência. O pai era um senhor que já tinha ultrapassado mais de metade da sua vida e tinha uma aparência frágil e um ar triste e distante. O filho, já adulto, por sua vez tinha um aspecto mais robusto, embora um pouco inquieto e nervoso. Era com ele que falava.
Lá de vez em quando ouvia-se ele a falar noutra língua com o pai. Por vezes num tom de discussão. Nessas alturas a fragilidade do senhor tornava-se mais evidente pois este ficava quieto e com um ar indefeso.
Estava na hora de seguir viagem, com o destino escolhido pelo filho.
Entramos no carro e partimos...
Foi durante essa viagem que tive oportunidade de conhecer melhor os nossos dois visitantes e hoje posso dizer que talvez preferisse não ter feito aquela viagem ou ter tido aquele diálogo, mas por outro lado também posso dizer que foi uma oportunidade de saber o quão frágil nos podemos tornar perante a ausência de um afecto ou de um gesto de amizade. No meio da nossa conversa foi-me dito que ambos tinham problemas de saúde. Eram doenças diferentes, mas ambas eram responsáveis por roubar a vida, a vários níveis, daqueles que as carregam. O filho sofria de Esquizofrenia e o pai sofria de Alzheimer, a doença que muitas vezes o transportava para lugares e situações que não eram aquele lugar, que não eram aquele. Nesse momento percebi a fragilidade que era possível notar naquele senhor, que estando ali connosco era o mesmo que não estar, era um lugar ocupado e ao mesmo tempo vazio e também nesse momento, ou no momento a seguir, percebi também porque é que o filho por vezes discutia com o pai, pois embora não percebesse o que diziam era fácil perceber que discutiam sobre alguma coisa. Devido à sua doença, o filho por vezes perdia o controle , causadas pela
Chegamos ao nosso destino...após passarmos algum tempo a apreciar a moradia e conversarmos sobre várias coisas relacionadas com o local e com as implicações de uma possível mudança de residência chegou a hora de fecharmos as portas daquela moradia que certamente não iria ser a próxima residência do filho. Era hora de partir, só que havia alguém que estava achando a visita muito interessante e não fazia intenções de regressar já pois naquela noite iria haver um baile ali e era preciso esperar pela hora da dança. Quem já não achou muita piada a isso e após algum diálogo, já no final emn tom de discussão, foi o filho do senhor que ia dançar esta noite. Não conseguindo manter a calma o filho tentar puxar o pai pelo casaco, chegando mesmo a rasgar parte desse. Foi uma atitude que era e foi capaz de despertar uma série de sentimentos e pensamentos, só que não havia muito tempo para assistir e era preciso ajudar. E foi isso que foi feito...o filho acalmou-se e ajudamos o senhor a levantar-se devagar. Provavelmente, e com muita pena dele, esta noite ele não dançaria.
Entramos no carro e iniciamos a viagem de regresso. Os primeiros minutos foram preenchidos por momentos isolados acompanhos pela reflexão sobre o que havia acontecido, uma reflexão que provavelmente serviria para recriar aqueles instantes.
Foi uma viagem mais lenta, não só pelos pensamentos mas também devido à chuva que agora caia e ajudava a entristecer aquele fim de tarde, mais escuro do que era suposto ser. No entanto pudemos conversar novamente e o resultado dessa conversa trouxe ao de cima a debilidade e consternação que se escondia naquele adulto que, de uma forma mais ou menos voluntária, havia reagido mal ao pai e o tinha impedido de dançar naquela noite. Essa fragilidade deve-se ao facto de lhe não ser possível ter o apoio daqueles que lhe são mais próximos, mas que agem como se fossem aqueles que estão mais longe, mostrando apenas indiferença e não sendo capazes de dar um pouco de si, um pouco que pode ser muito, um pouco que por vezes é possível encontrar numa simples palavra ou frase, um pouco que era capaz de fazer toda a diferença ou que pelo menos fosse capaz de impedir que uma pessoa, que infelizmente sofre de Esquizofrenia, de viajar 'meio mundo' acompanhado pelo seu pai, que viu a sua vida passar a ser controlada por algo que lhe leva de si próprio deixando apenas um olhar inocente, vazio e triste, e que se calhar esteve cá sem nunca ter realmente estado, em busca daquilo que não consegue encontrar no seu lugar e junto daqueles que lhe deviam apoiar e ajudar.
Afinal aquela quarta-feira não foi o dia da visita, foi um dia que agora me faz dizer que precisamos ter mais cuidado, mais atenção, mais paciência, mais tolerância, mais compreensão...enfim, um pouco de tudo aquilo que pode ajudar alguém. Não vamos deixar que partam em busca de algo que está ao seu alcance mas que não conseguem alcançar porque nós não deixamos.
Lá de vez em quando ouvia-se ele a falar noutra língua com o pai. Por vezes num tom de discussão. Nessas alturas a fragilidade do senhor tornava-se mais evidente pois este ficava quieto e com um ar indefeso.
Estava na hora de seguir viagem, com o destino escolhido pelo filho.
Entramos no carro e partimos...
Foi durante essa viagem que tive oportunidade de conhecer melhor os nossos dois visitantes e hoje posso dizer que talvez preferisse não ter feito aquela viagem ou ter tido aquele diálogo, mas por outro lado também posso dizer que foi uma oportunidade de saber o quão frágil nos podemos tornar perante a ausência de um afecto ou de um gesto de amizade. No meio da nossa conversa foi-me dito que ambos tinham problemas de saúde. Eram doenças diferentes, mas ambas eram responsáveis por roubar a vida, a vários níveis, daqueles que as carregam. O filho sofria de Esquizofrenia e o pai sofria de Alzheimer, a doença que muitas vezes o transportava para lugares e situações que não eram aquele lugar, que não eram aquele. Nesse momento percebi a fragilidade que era possível notar naquele senhor, que estando ali connosco era o mesmo que não estar, era um lugar ocupado e ao mesmo tempo vazio e também nesse momento, ou no momento a seguir, percebi também porque é que o filho por vezes discutia com o pai, pois embora não percebesse o que diziam era fácil perceber que discutiam sobre alguma coisa. Devido à sua doença, o filho por vezes perdia o controle , causadas pela
Chegamos ao nosso destino...após passarmos algum tempo a apreciar a moradia e conversarmos sobre várias coisas relacionadas com o local e com as implicações de uma possível mudança de residência chegou a hora de fecharmos as portas daquela moradia que certamente não iria ser a próxima residência do filho. Era hora de partir, só que havia alguém que estava achando a visita muito interessante e não fazia intenções de regressar já pois naquela noite iria haver um baile ali e era preciso esperar pela hora da dança. Quem já não achou muita piada a isso e após algum diálogo, já no final emn tom de discussão, foi o filho do senhor que ia dançar esta noite. Não conseguindo manter a calma o filho tentar puxar o pai pelo casaco, chegando mesmo a rasgar parte desse. Foi uma atitude que era e foi capaz de despertar uma série de sentimentos e pensamentos, só que não havia muito tempo para assistir e era preciso ajudar. E foi isso que foi feito...o filho acalmou-se e ajudamos o senhor a levantar-se devagar. Provavelmente, e com muita pena dele, esta noite ele não dançaria.
Entramos no carro e iniciamos a viagem de regresso. Os primeiros minutos foram preenchidos por momentos isolados acompanhos pela reflexão sobre o que havia acontecido, uma reflexão que provavelmente serviria para recriar aqueles instantes.
Foi uma viagem mais lenta, não só pelos pensamentos mas também devido à chuva que agora caia e ajudava a entristecer aquele fim de tarde, mais escuro do que era suposto ser. No entanto pudemos conversar novamente e o resultado dessa conversa trouxe ao de cima a debilidade e consternação que se escondia naquele adulto que, de uma forma mais ou menos voluntária, havia reagido mal ao pai e o tinha impedido de dançar naquela noite. Essa fragilidade deve-se ao facto de lhe não ser possível ter o apoio daqueles que lhe são mais próximos, mas que agem como se fossem aqueles que estão mais longe, mostrando apenas indiferença e não sendo capazes de dar um pouco de si, um pouco que pode ser muito, um pouco que por vezes é possível encontrar numa simples palavra ou frase, um pouco que era capaz de fazer toda a diferença ou que pelo menos fosse capaz de impedir que uma pessoa, que infelizmente sofre de Esquizofrenia, de viajar 'meio mundo' acompanhado pelo seu pai, que viu a sua vida passar a ser controlada por algo que lhe leva de si próprio deixando apenas um olhar inocente, vazio e triste, e que se calhar esteve cá sem nunca ter realmente estado, em busca daquilo que não consegue encontrar no seu lugar e junto daqueles que lhe deviam apoiar e ajudar.
Afinal aquela quarta-feira não foi o dia da visita, foi um dia que agora me faz dizer que precisamos ter mais cuidado, mais atenção, mais paciência, mais tolerância, mais compreensão...enfim, um pouco de tudo aquilo que pode ajudar alguém. Não vamos deixar que partam em busca de algo que está ao seu alcance mas que não conseguem alcançar porque nós não deixamos.
Apenas digo que a tolerância está com o prazo de validade quase a acabar e por vezes as coisas acontecem por nossa culpa, outras pedem que intervenhamos, e por fim há outras que se pudéssemos esquecíamos que existiam. A realidade é dura para todos :- (
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