a Morte com sinceridade e Novembro

"É tão triste desejar a morte com sinceridade. É tão triste não encontrar nada na vida, olhar todas as escolhas da vida e todas serem uma só e essa única possibilidade ser a miséria e o sofrimento e a solidão definitiva. Com olhos cansados, via a minha mãe. Se pudesse tinha chorado. Se pudesse, tinha chorado com todas as minhas forças. Se pudesse, tinha gritado até arrancar a última réstia de sofrimento e de vida de mim, até transformar o meu sofrimento, a minha vida, num grito que impressionasse o mundo."

Novembro
"Veio o mês da noite. Os dias não nasceram durante um mês. Os relógios, alheios ao mundo, continuavam a dar as horas, mas era sempre noite. A luz da electricidade não tinha força suficiente para iluminar a escuridão do mês da noite. Se alguém acendia uma lâmpada, não se distinguia sequer a luz pequena da presença de uma lâmpada acesa. Às vezes, ia á varanda. Olhava o céu negro, o lugar onde imaginava nuvens a passarem lentas á frente do lugar onde imaginava a forma embaciada da luz, as estrelas apagadas nos seus sítios. Olhava a escuridão absoluta, as ruas a tocar-me a pele, como pontos finos de luz imaginada." 
"A chuva tinha parado. Entrava pela janela o cheiro interior da terra molhada, o cheiro germinal da terra por dentro, molhada de ervas viçosas a crescer, talvez verdes na escuridão."

Textos de José Luís Peixoto, "Uma Casa na Escuridão"

Comentários

  1. Eu adoro este autor! E este é um dos meus livros (prosa) de JL Peixoto.

    Paralelamente, editou e fez sair um pequeno livro de poesia que releio com frequência!

    Não gosto muito desta época do ano... de Novembro ao Natal... e fiquei com a sensação que também não uma época do ano muito agradável para ti...

    Votos de um Ano 2012 com saúde, paz, afectos. Um dia de cada vez...

    Sensibilizada pela amizade!
    Um beijo

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

2024.3 - A passadeira

2024.1 - Solidão

17.6 - a never ending life