A visita

Fui à tua casa para te visitar mas não estavas lá. De certa forma, isso já eu sabia, mas mesmo assim fui lá. Cheguei e entrei porque a porta estava aberta...a porta está sempre aberta para os amigos. É assim que deve ser. Deixei-me ficar por lá durante algum tempo. Não estavas lá, mas ainda assim não foi por isso que deixei de ficar na tua companhia, na tua companhia através da música, que deixaste algures ligada quando saíste, e que ficou lá a tocar, a dar vida à casa, àquele espaço, independentemente do tempo que estarias a pensar ficar por fora. Talvez tenhas ido apanhar ar, libertar a mente para novos pensamentos, novas ideias, novas vivências, novas memórias, novos sons, novas palavras...Todos nós sentimos essa necessidade porque estar estagnado cansa e é como estar parado no espaço e no tempo. Quando se está nesse estado é quase como estar sem vida e não é assim que devemos viver o dia-a-dia. Vagueei pela casa guiado pelos sons e revisitei algumas das molduras dispostas aqui e acolá. Molduras essas que abraçavam os teus quadros, as tuas obras, os teus quadros que eram memórias e sentimentos pintados com palavras, os teus quadros que eram histórias contadas com emoções, os teus quadros que eram imagens estáticas e dinâmicas retratadas e gravadas de e para um olhar. Por lá permaneci durante algum tempo, deixei-me ir ficando, quando me fui embora não foi por não teres chegado a casa ou por me cansar de esperar, pois a visita não foi como se estivesse à espera de algo ou como se tivesse uma série de tarefas a desempenhar. Posso dizer que a visita foi como revisitar uma exposição de pintura...ver os detalhes que escaparam aquando da primeira ou primeiras visitas, ver cores que estavam escondidas algures e poder olhar para as telas com outros olhos! Ler as entrelinhas e preencher os vazios.

Comentários

  1. Gosto.
    Há muito que não visitava esta cantiho.
    Um abraço

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  2. Gosto.
    Há muito que não visitava este cantinho.
    Abraço

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  3. E tens vontade de lá voltar?

    Estou a gostar de te ler...palavras à minha medida!

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  4. «Ler as entrelinhas e preencher os vazios!...»

    É bem capaz de ser o que acontece quando regressamos às nossas memórias: aquela música que o tempo quase fez esquecer e que, não obstante, continua a ser indissociável de um dia único; o livro ainda aberto na página que, afinal, nos acompanhou ao longo dos anos; o inigualável som do silêncio...

    De pouco mais precisamos para recordar o sabor de um sorriso!

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  5. Estive uns dias sem escrever e venci algumas batalhas...vou começar a dissecar a dor e perceber porque quis ficar só, com duas filhas no Mundo, incapaz de me deixar aprisionar por mais Vida alguma senão a minha.
    A aprendizagem de estarmos sós, é terrível, mas é de longe a melhor, para recomeçar...

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