Tu, que eras tu sem que fosses tu
Por vezes vem-me à memória os tempos em que tu eras tu sem que o fosses, e eu era eu, mas mais novo, mais inocente, igual a quem sou hoje, mas com menos uns quilos de anos a pesar no agir, no pensar e no sentir. Havia coisas que eu percebia porque naquele tempo já tinha idade de as perceber, mas tu, que não eras tu, tornavas os dias difíceis e mesmo percebendo, eu não percebia. Eu não percebia tudo, e não percebia tudo porque parte de mim ainda era uma criança que queria estar a ser criança. O tempo era formado por grupos de horas lentas que caminhavam entre o dia e a noite, e eu, pouco mais podia fazer no vagar do tempo, sem ser estar em estado de alerta, a observar os teus movimentos e a decifrar os teus passos, embalado na melancolia daquelas correntes invisíveis que nos amarravam a ti como se fosse uma obrigação nossa. É verdade que queriamos estar presos a ti, mas de outra forma, e que essa fosse o teu abraço em sinal de afectos, como ...